sábado, 3 de maio de 2008

Primeiro de Janeiro - Suplemento Se7e - Entrevista

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Mandrágora editam segunda-feira segundo álbum de originais

Um «Escarpa» menos tradicional.

No segundo trabalho discográfico, os Mandrágora têm uma sonoridade mais urbana, em que o jazz ocupa lugar de destaque, sem no entanto deixarem cair o cunho tradicional e folk que sempre os caracterizou. «Escarpa» mostra um colectivo em fase de transformação, oferecendo uma música de fusão e que, acima de tudo, soa bastante agradável.
O «Porto, Bairro a Bairro» vai conhecê-lo, pois a partir de sexta-feira estão agendadas quatro actuações em outros tantos auditórios da cidade Invicta. Pedro Vasco Oliveira«Escarpa», o segundo álbum dos portuenses Mandrágora, chega segunda-feira às lojas. Para o apresentar, quatro auditórios do Porto recebem a banda: Auditório do ISEP (dia 9), Auditório de Aldoar (10), Auditório da Pasteleira (16) e Auditório de Campanhã (17). Os Mandrágora integram o projecto «Porto, Bairro a Bairro» e aproveitam para apresentar o novo trabalho ao público da Invicta.Pedro Viana e Ricardo Lopes contaram ao SE7E como descobriram esta «Escarpa» e de que forma a pretendem mostrar ao público.
Os dois músicos fazem parte de um colectivo alargado, que integra ainda Filipa Santos, Sérgio Calisto e João Serrador, contando, no disco e nestes quatro concertos, com as participações de Helena Madeira e Francisco Silva.Como os próprios dizem “a raiz que se plantou no início, agora se fez formoso arbusto...”.

Que «Escarpa» é esta?
Pedro Viana (PV) – Quando andávamos à procura de um nome para o disco queríamos um que pudéssemos associar à música, porque quando se faz música instrumental nem sempre é fácil de encontrar os nomes certos. Em relação ao outro disco este tem momentos mais explosivos, momentos em que a música vai lá cima e depois volta a descer. Este tem momentos mais fortes do que o outro, que era um pouco mais redondo e este é mais escarpado. Basicamente, essa é a ideia.

Olhando ao primeiro disco, em que sentido acham ter evoluído?
Ricardo Lopes (RL) – No primeiro disco participaram dois músicos que entretanto saíram da banda e a evolução deu-se a partir do momento em que entraram o Sérgio Calisto e o João Serrador. Com os instrumentos que tocam trouxeram uma outra abordagem à música que fazíamos. No primeiro disco usávamos nas músicas mais flautas e tínhamos temas mais tradicionais, entre aspas; neste, devido à entrada do Sérgio e do João, que trouxeram as influências e os instrumentos deles, a nossa sonoridade transformou-se e evoluiu para o que hoje é a «Escarpa».

O sentido mais tradicional da vossa música é mais representado pelos que se mantêm na banda desde o disco «Mandrágora» e a urbanidade mais pelos novos elementos?
RN – Pode ser visto por esse prisma… No início, como éramos só três, a música era um bocado mais simples, mas quando eles entraram trouxeram com eles essa tal urbanidade que transformou a nossa música por completo.

Ao ouvir esta «Escarpa» reconhece-se uma forte componente jazzística na sonoridade da banda. Essa é uma marca indelével nesta «Escarpa»?
RN – Sim.
PV – É normal, porque quando gravámos o primeiro disco já ouvíamos e gostávamos de jazz e até já havia momentos que tinham o seu toque jazzístico… Só que a instrumentação, se calhar, não mostrava tanto isso. Agora, como a Filipa está a usar muito mais o saxofone, isso está sempre presente. E o João Serrador, que também é um músico com formação de jazz, ainda veio acentuar mais esse lado. O Ricardo também alterou a forma de tocar, agora faz umas percussões muito mais bateria, enquanto dantes era mais próximos das percussões tradicionais. Acabamos por nos influenciar todos uns aos outros e o resultado final é este. Há ali um toque jazzístico, como há um toque de muitas outras coisas.

E com que referências se chega a um resultado destes?
RN – As referências é o que cada um ouve, o que cada um gosta, que vão desde bandas tradicionais suecas, a grupos de jazz, aqui do Porto, por exemplo… Penso que é o resultado do que toda a gente gosta um pouco e todos trazem para a banda.

Como foi o processo de composição deste «Escarpa»?
RN – Com a entrada do Sérgio Calisto e do João Serrador tivemos que alterar as músicas que já tínhamos gravado no primeiro álbum, pois eram músicos diferentes e outros instrumentos. Desde essa altura as músicas foram-se alterando, fomo-las melhorando de concerto para concerto e evoluindo até ao ponto em que considerámos que tínhamos repertório para gravar um bom disco…

E porquê a opção pelo instrumental, apesar de haver alguma vocalização neste disco, se bem que pouca? Brincando um pouco, à falta de voz apenas?
RN – [risos] Também… Mas deve-se, essencialmente, aos instrumentos, alguns, por exemplo, feitos tradicionalmente na Suécia, que emprestam um carácter diferente devido à sonoridade que têm.
PV – O facto dos músicos novos serem instrumentistas e não cantores tem que ver com o que o grupo já trazia detrás. A nossa opção sempre foi a música instrumental até aqui – talvez um dia nos dê para fazer uma coisa diferente –, porque a música que ouvimos em casa, o que gostamos mais e o que sempre fizemos foi música instrumental. De facto, temos tido algumas colaborações pontuais com cantores, enquanto as colaborações com instrumentista solidificam mais e são mais duradouras porque se enquadram mais com o espírito do grupo desde o início.

O resultado final deste «Escarpa» corresponde ao que idealizaram quando partiram para o disco?
RN – Penso que supera…Tínhamos as nossas músicas, mas a participação do Simone e do Matteo – que conhecemos numa estadia em França durante o Euro Folk, altura em que ficou a promessa deles participarem num disco nosso – foi uma enorme mais-valia para a nossa música. Demos-lhes liberdade total, tal como à Helena na voz, e o resultado foi muito positivo, o que superou as nossas expectativas.
PV – As participações foram excepcionais e contribuíram muito para o valor do trabalho e não deixaram de nos surpreender. Estamos contentes com o disco, sendo certo que agora há pequenos reparos que faríamos, mas no global o trabalho tem qualidade e soa bem. Estamos muito contentes…

E como surgiu a possibilidade de integrarem esta iniciativa «Porto, Bairro a Bairro», que vos vai levar a quatro auditórios da cidade Invicta?
PV – Há pouco estávamos a falar sobre a dificuldade das bandas do Porto irem tocar a Lisboa, o que não deixa de ser verdade, mas também nos queixávamos de que era difícil tocar nos auditórios do Porto e, de repente, vamos tocar a quatro… [risos]. Estamos muito satisfeitos com esta iniciativa, é uma oportunidade de levar a nossa música a mais gente… Estamos contentes porque é uma iniciativa que tenta levar a música ao maior número de pessoas possível e é isso que também queremos. E como a nossa música não é cantada, por vezes, não é fácil de entrar à primeira, mas com iniciativas destas, com aposta na música instrumental e folk as pessoas vão habituando-se a ouvir e assim poderemos ter cada vez mais público.

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